História

Anteriormente conhecida como Quinta da Vigia, a história da Camélia Gardens remonta ao início do século XIX quando um padre britânico, George Sayle Prior, adquiriu várias propriedades ao longo da encosta ocidental do vale do Arrabalde, entre S. Pedro e o Palácio Real de Sintra.

Devido ao perfil geológico da serra de Sintra e de acordo com os primeiros registos históricos, o vale do Arrabalde tornou-se a via de acesso preferencial ao centro da vila de Sintra, onde o Palácio da Corte Real foi instalado durante o século XIV.

Foi precisamente no terreno onde hoje se ergue a Camélia Gardens, que D. Afonso Henriques (primeiro rei e fundador de Portugal), depois de expulsar os árabes de Lisboa, estabeleceu o seu exército em 1147 com os seus aliados os cavaleiros da Segunda Cruzada, a caminho da Terra Santa, estabeleceu o cerco ao castelo empoleirado na montanha, embora os defensores mouros se tenham rendido sem luta.

Terá sido graças a uma localização privilegiada, de onde se desfrutam em pleno esplendor todas as construções monumentais coroando as cristas da Serra, desde o milenar Castelo dos Mouros ao antigo Convento e Palácio da Pena, até ao imponente Palácio da Vila e incluindo mesmo, à distância na planície bordejando o Atlântico, o majestoso Convento de Mafra, que a Quinta terá recebido a designação de “Vigia”, dela se contemplando não só todos os pontos de interesse em redor como até quem deles se acercava ou afastava.

Dos antigos caminhos que cruzavam a encosta do Arrabalde, de origem medieval ou mesmo anterior, possivelmente romana, encontram-se ainda hoje alguns troços preservados ao longo da tapada pertencente à Quinta, unindo-a no topo poente ao actual Parque da Liberdade e, através deste, ao Palácio da Vila, constituindo esse o único circuito hoje exclusivamente pedonal entre S.Pedro e o centro da Vila de Sintra.

Em 1858 a propriedade foi comprada por William Smith, Cônsul britânico em Lisboa e D. Eugénia Maria de Meneses Smith, bisneta do Marquês de Marialva, recebendo deles a sua actual configuração geral foi herdada pelo seu único filho, o Major Astley Campbell Smith.

Sebastião Pinto Leite, Visconde de Gandarinha e Conde de Penha Longa, adquire a Quinta da Vigia em 1867 juntamente com o antigo Convento da Penha Longa. Catorze anos mais tarde, em 1881, a propriedade entra na posse de Rodrigo Delfim Pereira, filho ilegítimo e herdeiro do Imperador do Brasil D. Pedro I também rei português D. Pedro IV, que expande a propriedade durante os anos seguintes.

Desde então e ao longo de mais de um século, até 2012, a Quinta da Vigia continua a ser a residência privada da mesma família, alargada pelo casamento da filha de Rodrigo Delfim Pereira com o Conde de Seisal e a posterior união daquela nobre família com os Viscondes de Asseca, tendo ao longo desse período ambas as velhas casas aristocráticas ganhado a alta distinção de se tornarem Camareiros da Corte Real.

A Condessa de Seisal e o seu genro, Visconde de Asseca, permaneceram fiéis e leais ao último Rei e Rainha Mãe de Portugal, D. Manuel II e Dona Amélia de Orleães, durante o seu exílio em Inglaterra após a criação da República em 1910, mantendo os seus cargos não só como mordomo mas sobretudo como amigos e confidentes particulares da família real em exílio.

Como retribuição por tão inabalável lealdade e profunda amizade, a Rainha Mãe, Dona Amélia, uma vez dada pelo ditador português Salazar a oportunidade de revisitar Portugal em 1945, duas semanas após o fim da Segunda Guerra Mundial, pela primeira e última vez desde que foi forçada ao exílio, incluiu na sua agenda a única reunião protocolar a ter lugar numa residência privada, um almoço na Quinta da Vigia, a 22 de Maio, com os Condes de Seisal e Asseca

Durante essa visita foi-lhe concedida uma receção de despedida pela Rainha Mãe, organizada pela Viscondessa de Asseca, Carolina, recentemente viúva, onde conheceu António Salazar, daí desenvolvendo uma crescente e íntima relação pessoal, tornando-se um número na capa da revista TIME, um ano depois, 22 de Julho de 1946, fazendo eco da expectativa geral de que tal relação, nascida e desabrochada na Quinta da Vigia, pudesse, assim o esperamos, trazer o amadurecimento do carácter severo do ditador e a abertura do regime após a Segunda Guerra Mundial. 

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